Pantanal MS
30 de Outubro / 2024

A tentativa de tomada do Palácio Quemado durou cerca de três horas. O general Zúñiga, ao não conseguir cumprir seu objetivo, retirou-se tranquilamente após o assalto militar. | Créditos: El Deber

  • Publicado em: 27 de Junho, 2024 | Fonte: Ana Santos

Na tarde da quarta-feira (26), tanques e soldados do Exército avançaram sobre a entrada do palácio presidencial em La Paz, Bolívia, evocando memórias dos períodos de ditaduras militares que marcaram as décadas de 1960 e 1970 na América do Sul. Este evento, surpreendente para muitos, é considerado por especialistas um desfecho previsível para um governo já em crise.

Ato Isolado

Analistas de Relações Internacionais apontam que a tentativa de golpe liderada pelo general Juan José Zúñiga parece ter sido um ato isolado, sem o respaldo necessário para ter sucesso. Após ameaçar o ex-presidente Evo Morales e ser demitido de seu cargo como comandante do Exército na terça-feira (25), Zúñiga tentou um golpe improvisado, sem apoio significativo das Forças Armadas ou de grupos sociais.

Maurício Santoro, cientista político e professor de Relações Internacionais, explica: “O general fez um cálculo político errado ao ameaçar Evo Morales. O atual presidente boliviano, Luis Arce, demitiu Zúñiga, isolando-o politicamente e forçando-o a uma tentativa desesperada de golpe”.

Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, acrescenta: “O apoio ao golpe foi praticamente inexistente. Até opositores de Evo, como Jeanine Añez e Luis Camacho, rejeitaram a ação de Zúñiga, destacando seu isolamento e a falta de uma base de apoio sólida”.

Crise Econômica e Disputas Políticas

A crise econômica que assola a Bolívia é um dos fatores que contextualizam a tentativa de golpe. Com o setor de gás natural em declínio e reservas internacionais reduzidas a cerca de US$ 3 bilhões, o país enfrenta dificuldades para importar produtos essenciais. “A situação econômica difícil é um terreno fértil para instabilidade política”, afirma Santoro.

Nildo Ouriques, professor da UFSC, destaca a disputa pelo controle de recursos como um elemento central da crise: “Os países andinos enfrentam um conflito constante entre o Estado, que busca recursos para políticas públicas, e forças nacionais e multinacionais que resistem a qualquer forma de controle estatal”.

Além disso, a proximidade das eleições presidenciais em 2025 exacerba as tensões políticas. O general Zúñiga havia ameaçado prender Evo Morales caso ele se candidatasse, revivendo memórias da crise política de 2019 que levou à deposição de Morales. “A Bolívia ainda está lidando com as consequências dessa crise recente, o que contribui para o clima de instabilidade”, diz Santoro.

A tentativa de golpe na Bolívia reflete um panorama mais amplo de crise democrática na América Latina. “Este ano vimos tentativas de golpe na Guatemala e invasões ao Congresso no Brasil. Embora a democracia tenha mostrado resiliência, a frequência dessas crises é preocupante”, comenta Santoro.

A resposta internacional ao incidente foi rápida e firme. Países sul-americanos e a Organização dos Estados Americanos se manifestaram em defesa da democracia boliviana, destacando a importância de manter a estabilidade na região.

O episódio de tanques e soldados no palácio presidencial em La Paz destaca os desafios econômicos e políticos que a Bolívia enfrenta. Embora a tentativa de golpe tenha sido contida, o país precisa lidar com suas crises internas e as pressões externas para garantir uma democracia estável e funcional.

Comentários