
Monumento é um dos símbolos da Cidade Branca. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
Publicado em: 19 de Outubro, 2025 | Fonte: Fábio Marchi
Na manhã deste domingo (19), moradores de Corumbá (MS) se depararam com uma cena que resume um problema antigo provocado pelas mineradoras locais: uma caçamba de caminhão carregada com minério colidiu com o monumento de entrada da cidade, danificando parte da estrutura que dá boas-vindas a quem chega pela BR-262.
As imagens feitas no local mostram que apenas a caçamba — parte traseira de um bitrem com 25,6 metros de comprimento — se desprendeu do conjunto e avançou sobre o monumento, atingindo em cheio uma das colunas laterais, que ficou visivelmente trincada e deslocada. O caminhão, pertencente a uma mineradora que opera na região, seguia pela via sentido centro.
Apesar do impacto, não se tem notícia de vítimas ou feridos. Até o fechamento desta matéria, não havia qualquer sinalização de isolamento ou presença de autoridades no local, e o tráfego de veículos leves e pesados continuava fluindo normalmente - inclusive com, curiosos colocando suas vidas em risco, para obter imagens do acidente - flagrados pelo MS Diário.
Vários veículos paravam em plena rodovia para obter imagens do acidente, colocando em risco a segurança da via. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
Curiosos paravam o veículo no local, para obter imagens. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
Rodovia em colapso: BR-262 sofre com o peso da mineração
O acidente reacende o debate sobre as condições da BR-262 entre Miranda e Corumbá — um trecho de cerca de 284 quilômetros que corta o Pantanal e que há anos sofre com degradação do pavimento, falta de acostamento e tráfego intenso de caminhões de carga.
Segundo o Instituto Tecnológico de Transporte e Infraestrutura (ITTI), o solo da planície pantaneira, sujeito a alagamentos e recalques, acelera o desgaste do asfalto. O tráfego diário de bitrens carregados de minério — muitos acima de 70 toneladas — contribui para afundamentos e trincas que se renovam mesmo após obras de recapeamento.
O "Portal do Pantanal" foi um projeto da prefeitura para simbolizar a entrada da cidade na região do Pantanal. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
O trecho é considerado por muitos especialistas e profisisonais de transporte como um “risco constante à vida”, uma pista que “ondula sob o peso das carretas”. O DNIT executou pequenas intervenções em 2022, revitalizando 19 km próximos a Miranda, mas a maior parte do percurso segue em estado precário.
Nenhuma autoridade ou responsáveis estavam presentes no local, até o fechamento desta matéria. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
Mineração: bilhões em investimentos, migalhas em infraestrutura
Corumbá e Ladário concentram as principais minas de ferro e manganês do estado. A LHG Mining, do grupo J&F Investimentos, anunciou em 2023 um plano de R$ 4 bilhões para dobrar a produção anual de minério de 12 para 25 milhões de toneladas. O governo estadual projeta que a arrecadação com royalties e tributos possa alcançar R$ 350 milhões por ano.
Entretanto, pouco desse valor retorna em melhorias viárias. O transporte da produção segue majoritariamente por estrada, já que o modal ferroviário continua subutilizado. Assim, o tráfego pesado se concentra justamente no trecho urbano da BR-262, que corta a entrada da cidade — o mesmo onde o acidente deste domingo ocorreu.
Moradores relatam que caminhões passam a poucos metros de calçadas e monumentos, levantando poeira de minério, danificando o patrimônio público a longo ou a curto prazo.
Símbolo atingido
O monumento atingido — com suas colunas coloridas e o grande arco com o nome “Corumbá” — é um dos marcos visuais da cidade. O impacto arrancou pedaços de concreto da base amarela e deixou o arco inclinado.
A estrutura danificada virou retrato literal do que acontece com a infraestrutura da BR-262: pressionada, trincada e sem suporte técnico suficiente. O acidente - desta vez em um símbolo da cidade - mostra que peso econômico da mineração continua crescendo, mas a capacidade de Corumbá e da BR-262 de suportar essa carga física e logística permanece estagnada.
Enquanto o minério segue viagem, a conta fica nas estradas, nas vidas perdidas, nos monumentos e na paisagem urbana.
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