Corumbá: sem benefícios da taxa do lixo, idoso doente de 73 anos têm que trabalhar usando bolsa coletora urinária

O flagrante do catador de papelão aconteceu na manhã deste último domingo (19), na Capital do Pantanal

Seu Valdeci (73), trabalha doente, carregando consigo uma bolsa coletora de urina - por conta de um grave problema renal. | Créditos: Fábio Marchi
Cidadania

Corumbá - Que o Brasil é um país de muitas desigualdades e injustiças sociais, isso é um fato - mas em Corumbá parece que isso fica muito mais evidente, pois a barreira entre quem tem acesso aos serviços oferecidos pelo Estado e quem não tem, grita aos olhos de qualquer cidadão corumbaense.

A equipe do MS Diário encontrou, em uma manhã de muito calor na Cidade Branca, o senhor Valdeci da Silva (73), em um momento do seu descanso nas proximidades do bairro Aeroporto. Sentado no chão, de voz fraca e aparência muito debilitada, Valdeci relatou um pouco do sacrifício que tem que fazer, todos os dias, para sobreviver:

"Tenho que correr atrás, minha mulher está doente e a gente tem que correr atrás, pra não roubar, né?"


Chega a ser inacreditável que um idoso de 73 anos de idade precise trabalhar nessas condições, em Corumbá - uma das cidades mais ricas do Mato Grosso do Sul. | Imagem: Fábio Marchi

SEM AJUDA DE NINGUÉM

Apesar da idade avançada, Valdeci não conseguiu se aposentar e depende da coleta de papelão para ganhar o sustento diário - cerca de R$ 100 reais por semana. Morando com a esposa - que segundo ele também está doente - o idoso não sabe mais o que fazer para sobreviver:

"Tô com pedra no rim. Preciso usar isso aqui o dia todo. Aqui em Corumbá não faz, não tão fazendo cirurgia. Já fui até em Três Lagoas e me cobraram R$ 4 mil reais por essa cirurgia. Não tenho esse dinheiro e sei que nunca vou ter. O jeito vai ser usar isso aí até quando Deus quiser, né?"

"Isso aí" é como Valdeci se refere à uma sonda que está conectada ao seu corpo e por sua vez, também é conectada à uma bolsa coletora de urina. O cheiro de urina ao redor do idoso é muito forte, mas ele disse que já está acostumado:

"Já tem um tempo que estou usando. A gente tem que acostumar, né?"


Tubo por onde a urina é extraída do corpo do senhor Valdeci, de 73 anos de idade. | Imagem: Fábio Marchi

A aparência do senhor Valdeci também causa comoção: os pés estão  inchados (demonstrando que os rins e o sistema circulatório estão bem comprometidos) e a coloração da sua pele não aparenta ser de uma pessoa saudável.

Indagado se recebe alguma ajuda da Assistência Social de Corumbá ou de algum órgão relacionado à saúde do idoso, seu Valdeci disse que não - e também não tem nenhum conhecimento dos seus direitos, inclusive que essa cirurgia teria que ser gratuita, pelo SUS.
 


Seu Valdeci trabalha descalço, pés inchados - provavelmente por conta da doença. | Imagem: Fábio Marchi


Os pés do seu Valdeci estão tão inchados que ele não consegue mais usar chinelos. Seu problema renal crônico exige procedimento cirúrgico, urgente. | Imagem: Fábio Marchi

A POLÊMICA TAXA DO LIXO EM CORUMBÁ

Os cidadãos corumbaenses são obrigados agora a pagar uma taxa considerada absurda pela população local - tendo em vista que alguns casos chegou a subir 400% o valor cobrado, pela Prefeitura Municipal de Corumbá.

A nova taxa do lixo foi defendida pelo atual prefeito de Corumbá com "unhas e dentes" e teve aprovação da maioria da Câmara Municipal - mas foi contestada por dois vereadores que demonstraram a cobrança irregular da taxa em uma Audiência Pública - e agora o caso será encaminhado para a Justiça. Para que a taxa seja cobrada de forma regular, a Prefeitura precisa ter um aterro sanitário já pronto - o que ela não tem. A ideia do Prefeito Marcelo Iunes agora é fazer com que os cidadãos banquem o financiamento desse aterro, fazendo um empréstimo para a aquisição do terreno e sua construção. O próprio Marcelo Iunes estimou em uma live, em um podcast, que o custo desse aterro custaria algo em torno de R$ 100 milhões de reais aos cofres públicos e só estaria disponível dentro de 3 ou 4 anos - portanto, sem qualquer responsabilidade de sua gestão, que se encerra em Dezembro de 2024.


Carrinho de coleta de papelão do seu Valdeci, que levanta as 5 horas da manhã - e só para de trabalhar quando o sol se põe. | Imagem: Fábio Marchi

De qualquer forma, a taxa do lixo não beneficia ou melhora em nenhum momento, a vida de pessoas como o seu Valdeci, que contribuem para a coleta seletiva do lixo em Corumbá.

AJUDA

Quem puder e desejar ajudar seu Valdeci da Silva, idoso de 74 anos, seu endereço é na Rua Joaquim Murtinho, 884 - entre a Antônio Maria e a Frei Mariano - CENTRO.