
Publicado em: 01 de Janeiro, 2024 | Fonte: Fábio Marchi
Corumbá - O que seria mais um “ponto turístico” da Capital do Pantanal tornou-se a indignação do advogado corumbaense Dr. Roberto Lins, que fez uma visita ao Morro do Cruzeiro, local turístico clássico de Corumbá, onde estão localizadas a coleção de imagens sacras da artista Izulina Xavier e sua obra mais conhecida, o Cristo Rei do Pantanal.
Lá, Dr. Roberto viu o estado de decomposição que se encontrava um monumento que havia sido inaugurado há menos de dois meses, e postou sua indignação na rede social Facebook:
“...eu sugiro que todos que tiverem interesse de tirar fotos no local, o façam logo. O sol de Corumbá em menos de seis meses vai destruir esse pequeno e mal feito monumento. Sei lá que tipo de material foi usado, mas a cola já está soltando e daqui a pouco será mais uma sucata na “ terra do já teve”. Porque nada aqui é feito para durar? Lastimável!”
Imagem postada nas redes sociais mostra parte do monumento "descolando". Há relatos de outras pessoas dizendo que partes da estrutura estão ficando soltas, também. | Créditos: Dr. Roberto Lins / Facebook
Estrutura foi instalada há menos de dois meses e já encontra-se em processo de "desmontagem". | Créditos: Dr. Roberto Lins / Facebook
O MONUMENTO
No dia 12 de novembro do ano passado (2023), o prefeito de Corumbá Marcelo Aguilar Iunes (PSDB) inaugurou, com muita pompa e publicidade, um letreiro com o nome da cidade - um tipo de monumento bastante comum atualmente, em várias cidades turísticas do Brasil e do Mundo, com letras grandes demonstrando o nome da cidade, em lugares considerados cartões-postais do município.
Material empregado/montagem realizada seria inapropriado para o nosso clima/temperaturas. | Créditos: PMC
Obra nova foi inaugurada aos pés de um Cristo Rei do Pantanal, lamentavelmente encardido e sujo. | Créditos: PMC
O monumento inaugurado faz parte de um conjunto de cinco, que serão instalados no Porto Geral, No Cristo Rei do Pantanal, na Estrada Parque BR 262, na entrada da cidade e na rotatória da fronteira, na Avenida Ramão Gomes, com custo total da obra de R$ 225.872,17 (duzentos e vinte e cinco mil, oitocentos e setenta e dois reais e dezessete centavos) - o que significa que cada conjunto de letras sai, para o bolso do contribuinte, ao custo de R$ 45.174,43 (quarenta e e cinco mil, cento e setenta e quatro reais e quarenta e três centavos) cada conjunto de letras - um valor bastante salgado, se levarmos em consideração o tipo e a quantidade de material empregado na pequena obra, realizada pela empresa campo-grandense AC7 Construtora e Projetos Ltda.
O MS Diário tentou saber mais sobre o tipo de material - pois esse tipo de obra geralmente é feita com concreto ou metal reforçado - e outras informações diretamente com o proprietário da empresa, mas não obtivemos resposta até hoje - aliás, ao indagarmos o proprietário sobre os materiais utilizados na construção do monumento, recebemos um “kkkkkkkk” como resposta, como visto no print abaixo:
Ao ser indagado sobre o tipo de material utilizado na obra, o proprietário se limitou a rir e dizer que não poderia passar essa informação - e jamais voltou a responder à nossa equipe de reportagem.
Sem respostas, buscamos os valores no Portal da Transparência de Corumbá e encontramos as informações referentes ao valor das obras. De posse dessas informações, fizemos um orçamento em duas empresas em São Paulo (SP), especializadas em fazer esse tipo de trabalho, enviamos as imagens do monumento instalado no Cristo Rei e recebemos orçamentos que variam entre R$ 18 a 22 mil reais (com frete), com as seguintes características: aço Galvanizado, recorte eletrônico, pintura Automotiva, estrutura tubular interna para fixação e relevo de 30cm, sendo a altura das peças, cerca de 1 metro, aproximadamente - praticamente metade do valor da obra tomada no município.
A AC7 Construtora & Projeto LTDA é uma empresa que vem aparecendo com frequência na lista de fornecedores da Prefeitura de Corumbá, desde 2022 - tendo seu principal cliente a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (SISP), comandada pelo secretário Ricardo Ametla:
Em Agosto de 2023, a empresa recebeu R$ 76.390,62 (setenta e seis mil, trezentos e noventa reais e sessenta e dois centavos), que foram pagos em duas parcelas naquele mês, sem exigência de licitação, para a “elaboração de projetos de arquitetura, urbanismo e complementares de engenharia para atendimento de demanda específica da SISP”, porém não há nenhuma especificação de quais projetos seriam esses, tão especiais que nenhum engenheiro ou arquiteto concursado da Prefeitura de Corumbá não possa realizar.
Em dezembro de 2022 a mesma empresa ganhou uma licitação para “executar remanescente de obra das dependências da Escola Municipal Rural Polo São Lourenço” ou seja, apenas para finalizar uma obra inacabada de outra empresa, nas dependências dessa escola (nem seria a própria escola), no valor de R$ 669.826,00 (seiscentos e sessenta e nove mil reais, oitocentos e vinte e seis mil e trinta e sete centavos.)
SEM LICITAÇÃO
No mesmo ano (2022), a empresa também não precisou participar de licitação em três outros projetos:
No mesmo mês da licitação da Escola Rural, a AC7 ganhou uma “obra convite” no valor de R$ 77.514,82 (setenta e sete reais, quinhentos e catorze reais e oitenta e dois centavos) apenas ara reformar uma casa popular. Sim, você leu certo: não era para construir uma casa popular, nem reformar várias unidades - era apenas para reformar uma única casa popular, por esse valor, como demonstrado no empenho abaixo:
Um mês antes, em novembro de 2022 a AC7 foi contemplada com mais uma “obra convite” onde ganhou R$ 44.000,00 (quarenta e quatro mil reais) reais para “serviços de consultoria para elaboração de projeto estrutural para recuperação do cais do porto” - obra que não temos ciência de sua execução.
Em agosto daquele ano, também com dispensa de licitação, ganhou mais R$ 44.844,04 (quarenta e quatro mil, oitocentos e quarenta e quatro reais e quatro centavos), para a “elaboração de projetos executivos complementares de engenharia para serviços de reforma e recuperação do antigo Hotel Internacional” - ou seja, R$ 88.844,04 (oitenta e oito mil, oitocentos e quarenta e quatro reais e quatro centavos) em projetos tão “específicos” que nenhum engenheiro ou arquiteto concursado da Prefeitura Municipal de Corumbá teria a capacidade de fazê-lo - e até hoje o Hotel Internacional continua aguardando por sua reforma, embora o “projeto” já esteja pronto e pago.
Resta agora saber se a empresa terá capacidade de resolver o problema da má construção/qualidade e durabilidade dos letreiros, uma vez que são os mais caros letreiros do mercado (até o momento) - e pagos com dinheiro público.
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