Elevador encontra-se abandonado desde o dia da sua inauguração - funcionou "só para o Ministro ver". | Créditos: Fabio Marchi / MSdiario
Publicado em: 12 de Novembro, 2024 | Fonte: Fábio Marchi
Corumbá - Quando você pensa que já viu de tudo em uma péssima gestão pública na Cidade Branca, é melhor rever seus conceitos: sempre pode piorar um pouco mais. Em Corumbá, um projeto que foi amplamente divulgado nas mídias e redes sociais e ao custo de quase R$ 1,5 milhão de reais, encontra-se fechado e abandonado pela Prefeitura Municipal. O motivo? Dá “trabalho” e gastos para o Executivo - algo que o cidadão médio corumbaense não estranha mais, tendo em vista que estamos findando uma das piores gestões que a Corumbá já sofreu, ao longo de sua existência.
O PROJETO
Tudo começou com um Plano de Ação do PMOB (Plano de Mobilidade Urbana e Rural) de Corumbá, criado em Novembro de 2016 - onde o Funicular do Porto havia sido inserido nesse projeto de mobilidade urbana, para melhoria de acesso ao Porto Geral (hoje Orla Ruiter Cunha de Oliveira), por parte de pedestres - e em especial, para as pessoas com algum tipo de deficiência e idosos com problemas de mobilidade.
Mesmo sabendo da importância da acessibilidade/mobilidade, Marcelo Iunes não se importou com essa parcela da população, ao decidir manter o equipamento inoperante. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
O projeto foi para frente, foi aprovado pelo Governo Federal e os recursos vieram para a construção da obra que poderia revolucionar o acesso de pedestres à um dos principais pontos turísticos de Corumbá - um sonho quase impossível para muitas pessoas, devido à dificuldade de acesso ao Porto Geral - hoje acessível apenas através de ladeiras longas e íngremes.
E assim, após muitos atrasos e uma longa espera, em 13 de maio de 2022, o elevador funicular - popularmente chamado de “Bondinho” pelos habitantes locais - foi inaugurado com muita pompa, com direito à presença do Ministro do Turismo da época, Carlos Brito e a Presidente do IPHAN, Larissa Peixoto, um projeto que custou aos cofres públicos federais quase R$ 1,5 milhão de reais ( R$ 1.479.627,35).
O funicular - uma espécie de “bondinho” sobre trilhos - possui duas plataformas de entrada: a superior, que se encontra na avenida General Rondon, próximo ao Antigo Hotel Galileo no início da rua Frei Mariano; e a inferior, em uma pequena praça que dá acesso ao Porto Geral através da Travessa Mercúrio. O transporte dos passageiros é feito através do acesso a uma destas plataformas. O passageiro entra na cabine do elevador com capacidade para 06 pessoas. A cabine – popularmente conhecida como Funicular/Plano Inclinado – percorre um trilho inclinado, num trajeto de 45 metros, vencendo um desnível (altura) de 19 metros entre a plataforma superior e a inferior.
Na ocasião, Marcelo Iunes disse ao Ministro do Turismo que Corumbá tinha outras obras em andamento, viabilizadas com recursos via Iphan:
“Temos o Antigo Mercadão, a Prefeitura Antiga, a Comissão Mista; a Casa do Artesão e também o ILA. Se Deus quiser ministro, o senhor voltará a Corumbá ainda este ano para entregar estas obras.”
Dois anos e meio depois, nenhuma dessas outras obras foi entregue por Marcelo Iunes.
Ministro do Turismo e a Presidente do IPHAN foram feitos de bobos - elevador só funcionou para a visita deles. | Créditos: PMC
UM MILHÃO E MEIO, PARA UM DIA DE FUNCIONAMENTO
Parado há exatos dois anos e seis meses, o “Bondinho” funcionou apenas no dia da inauguração, para o Ministro ver. Passado o momento das fotos e vídeos instagramáveis e mal acabada a cerimônia, o elevador foi fechado para o público com o pretexto de “realizar mais testes e treinamento e qualificação de pessoal para operar o equipamento”, e nunca mais se falou sobre o assunto: o elevador foi desligado, cercado e recoberto com tapumes e passou a servir de abrigo para moradores de rua, “banheiro público”, além de um local tranquilo para o uso de entorpecentes.
R$ 1,5 milhão de reais para algumas horas de funcionamento: a única vez que o funicular funcionou, em Corumbá. | Créditos: PMC
As imagens mais caras, já gastas em Corumbá: elevador funicular só funcionou para fotos e vídeos. | Créditos: PMC
DESCASO
Como foi inaugurado em Maio/2022, pensava-se na época que a obra seria aberta ao público em geral durante as festividades de São João - quando então as pessoas com dificuldades de mobilidade (pelo menos) - poderiam usufruir de um benefício que saiu dos seus impostos, mas infelizmente isso não aconteceu: acesso ao porto, apenas pelas ladeiras centenárias - porém íngremes.
O tempo foi passando e o sonho que deveria facilitar o acesso da população às áreas históricas, para a visitação e contemplação de "um cenário considerado um dos cartões postais de Corumbá" foi ficando cada vez mais distante.
O interessante é que a própria prefeitura de Corumbá, em seu site, tem conhecimento e sabe que é dificultoso o acesso à uma das principais áreas históricas da Cidade Branca e principalmente da importância dessa estrutura para os eventos realizados na região, de acordo com o texto no site da própria prefeitura:
"Atualmente o acesso entre a parte alta e a parte baixa (orla do rio Paraguai) da cidade de Corumbá é feito através de várias ladeiras e a histórica Escadinha da XV. As ladeiras da cidade trazem a memória de boa parte da história e tradições culturais do município, como a festa do Banho de São João na Ladeira Cunha e Cruz e acontecimentos históricos como a batalha da Guerra contra o Paraguai. Porém devido as grandes inclinações das ladeiras, dentre outros fatores, é dificultosa a mobilidade de ônibus de transporte público e pedestres a pé, desta forma não promove a facilidade de acesso ao Porto por parte da população local e dos turistas."
Segundo várias declarações de Iunes, funicular de acesso ao Porto Geral era "um elefante branco" para sua gestão. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
O MS Diário sugere aqui uma correção nesse texto divulgado pela Prefeitura de Corumbá, pois pode causar confusão entre os leitores, sendo que a "Escadinha da XV" é outro acesso que também não funciona, uma obra feita em novembro 1923 e que até hoje, 101 anos depois, "não existe empresa de engenharia ou tecnologia capaz de recuperá-la" (aos olhos da Prefeitura) - tendo em vista as inúmeras licitações realizadas e restaurações feitas, sem "sucesso", até o momento.
Acesso feito pela Travessa Mercúrio, na Orla Ruiter Cunha de Oliveira. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
“ELEFANTE BRANCO”
O prefeito Marcelo Aguilar Iunes cansou de dizer em diversas entrevistas e podcasts que o “Bondinho” não é uma obra dele e que o elevador é “um elefante branco para o município” - porque segundo o gestor municipal, é um atrativo que consome muitos recursos e mão de obra especializada, um gasto que a Prefeitura não pode arcar, no momento - talvez porque seja a gestão que mais gastou verbas públicas na contratação de comissionados, inchando a folha de forma vertiginosa e colocando o orçamento do município em risco, tendo até mesmo que recorrer à calotes no FUNPREV para poder fechar a folha de pagamento, uma clara demonstração de irresponsabilidade administrativa daquele que se diz “prefeito do povo”.
Quase R$ 1,5 milhão de reais abandonado ao léu, um verdadeiro desperdício de recursos públicos federais. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
O desafio maior do Prefeito eleito Dr. Gabriel será colocar esse plano de mobilidade urbana e rural em ação, por uma série de desafios técnicos e financeiros que Marcelo Iunes está deixando de “herança” para a próxima gestão, incluindo aí o Funicular e a Escadinha da XV de Novembro - e sobre essa obra de altíssima complexidade que é uma escadinha de concreto, nós também fizemos uma matéria sobre o imbróglio da Escadinha da XV - e se você quiser saber mais sobre esse desperdício de dinheiro público, clique aqui.
A estrutura está resistindo ao tempo e à intempérie, sem manutenção - mas pode se tornar irrecuperável, caso nenhuma medida administrativa seja tomada à tempo. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
Sem nenhuma fiscalização pelas autoridades competentes, o "Bondinho" é um exemplo de irresponsabilidade na gestão de recursos públicos. | Créditos: Fábio Marchi / MS Diário
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